Césare Battisti (Foto Divulgação)
Livre há quase três meses, Cesare Battisti, o italiano cujo asilo político no Brasil criou um estremecimento diplomático com a Itália e galvanizou a opinião pública dos dois países, vive como se fosse um clandestino, informa reportagem de João Carlos Magalhães, publicada na Folha deste domingo
O ex-integrante do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), condenado à prisão perpétua por quatro assassinatos ocorridos nos anos 1970 na Itália, não tem mais problema com a lei brasileira --já tirou até RG e CPF--, mas, temendo ser alvo de grupos paramilitares de direita, preocupado com o assédio da imprensa e "machucado", como diz, por quatro anos e dois meses de confinamento e exposição pública, ele resolveu se isolar numa pequena cidade do litoral sul de São Paulo.
Há dois meses mora sozinho num sobrado simples, cedido por um apoiador brasileiro, onde dorme num beliche velho em um quarto do tamanho de sua antiga cela.
Entre pescarias, cervejas em botecos e suspeitas persecutórias, Battisti tenta sair da pele de um personagem público no qual afirma não se reconhecer. "As pessoas me falam: 'Cesare, e a revolução?' Que revolução? Isso hoje é uma piada. Eu tinha 16 anos quando entrei no ativismo, não sou mais essa pessoa. Se eu continuasse um revolucionário hoje, seria um idiota", afirma, aos 56 anos.
O italiano diz ter sido usado como bode expiatório de todo um período histórico turbulento na Itália. Colegas de PAC também receberam asilo, sem nenhuma repercussão, argumenta. Assume ter participado de assaltos e brigas pela causa, mas não ter matado. "Era quase uma guerra civil. Se tivessem me mandado, eu teria matado. Mas felizmente isso nunca aconteceu, eu nunca acreditei que essa fosse uma saída."
Nenhum comentário:
Postar um comentário