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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O gás carbônico que gelou a Antártica também pode derretê-la


A calota de gelo da Antártica parece ter sido formada por uma súbita queda nos níveis de gás carbônico na atmosfera da Terra, há cerca de 34 milhões de anos. É a principal conclusão de um estudo das universidades de Yale e Purdue, ambas nos EUA, que estudaram moléculas de algas pré-históricas no fundo do oceano. Foi um dos grandes eventos climáticos da história do planeta. E confirma o papel predominante da concentração de gases responsáveis pelo efeito estufa na regulação do clima terrestre. Se o gelo antártico se formou por causa da redução no carbono da atmosfera, o aumento atual das concentrações do gás no ar deve ter o efeito inverso. A pesquisa foi publicada na revista científica Science americana.

Segundo Matthew Huber, pesquisador de Purdue, a quantidade de gás carbônico na atmosfera caiu 40% logo antes e durante o processo de formação da calota de gelo da Artártica. “Essa evidência confirma o que se espera do gás carbônico como principal regulador do clima global. Se nós o empurramos para cima ou para baixo, mudanças dramáticas acontecem”, diz Huber.



Durante os 100 milhões de anos que antecederam essa queda no carbono e o resfriamento da Terra, o planeta era mais quente e úmido. Várias espécies de mamíferos e até répteis viviam nos polos Sul e Norte, que então tinham clima subtropical. Depois, durante um período de 100 mil anos, as temperaturas caíram rápidamente, e várias dessas espécies se extinguiram. O gelo cobriu a Antártica.

O grupo descobriu que quando a concentração de gás carbônico na atmosfera chegou a 600 ppm (partes por milhão), a calota de gelo da Antártica começou a se formar. Esse parece ser o ponto que dispara a formação de gelo lá. Durante o desenvolvimento da nossa civilização e até o início da revolução industrial, a concentração na atmosfera oscilou em torno de 250 ppm, o que manteve o clima que conhecemos. Mas desde então começou a subir rapidamente, na medida em que queimamos combustíveis fósseis e despejamos carbono no ar. Nos anos 1960, estavamos em 310 ppm. Hoje, estamos com 390 ppm. E a Antártica está derretendo. Os cientistas estimam que, mantendo o ritmo atual, podemos chegar a 2100 com algo entre 550 ppm e 1000 ppm de carbono no ar.

O derretimento atual e parcial da Antártica pode elevar os mares em 6 metros até o fim do século, segundo algumas pesquisas. Também há previsões mais moderadas, de apenas meio metro. Vai depender da dinâmica do continente e de quanto carbono despejarmos na atmosfera.

Ninguém sabe qual é o nível de carbono na atmosfera capaz de fazer a Antártica sumir. Mesmo que a gente passe do ponto de manutenção da calota de gelo, ela pode levar milhares de anos para derreter totalmente, diz Huber. Também não se sabe o que levou à queda na concentração de carbono há 34 milhões de anos. O que se sabe é que todos esses processos ocorreram em escalas de tempo bem distintas do processo atual. Naquela época, a atmosfera levou 100 mil anos para perder 40% do gás carbônico. Agora, estamos diante de uma transformação do mesmo tamanho, só que em apenas 100 anos. É mil vezes mais rápido. Um período de 100 mil anos é suficiente para os ecossistemas se adaptarem e algumas espécies evoluírem. Um século é rápido demais para isso.

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