Nesta semana, a França está sediando o Fórum Mundial da Água, que avalia o atual estágio e quais os desafios do abastecimento de água em todo o mundo. Uma tarefa necessária: já atingimos a marca de 7 bilhões de pessoas no mundo no ano passado, e estamos a caminho de chegar a 9 bilhões até 2050. Haverá água para todo mundo?
Os dados mostram que o desafio é grande. Segundo o “4º Relatório
Mundial sobre o Desenvolvimento da Água”, publicado pela Unesco no
primeiro dia do Fórum, já falta água em muitas regiões do mundo – o
Oriente Médio é um dos casos mais problemáticos – e a agricultura vai
precisar de pelo menos 19% mais água para poder alimentar a todos.
A América Latina, apesar de possuir grande parte da água potável do mundo, também enfrenta problemas:
Instituições fracas: Segundo o relatório, há nos
países da América Latina uma “incapacidade generalizada em estabelecer
instituições que são capazes de lidar com questões de abastecimento e
gestão da água”. Ou seja, instituições fracas e um sistema ruim de
governança e transparência podem comprometer nosso abastecimento de
água. As causas dessa incapacidade são atribuídas à falta de capacidade
operacional, falta de informações confiáveis sobre a gestão da água,
pressões políticas e ausência de financiamento. O relatório considera
que alguns países estão em melhor situação do que outros na região –
Brasil e México, por exemplo, tiveram progresso na gestão da água. Mas
se lembrarmos que quase a metade dos municípios do país ainda não têm rede de esgoto, vemos que estamos longe do ideal.
Pressão por recursos: O relatório também identifica
que mudanças sociais e econômicas podem apresentar desafios para a
gestão da água nos países da América Latina. No Brasil, o aumento de
consumo e surgimento de uma nova classe média aumenta a pressão por
recursos, que pode resultar em conflitos. O relatório usa como exemplo
o caso da polêmica usina hidrelétrica de Belo Monte, que opõe a pressão para gerar mais energia a necessidade de preservar rios e florestas.
“Exportar” água: As exportações de recursos
naturais impactam diretamente na demanda por água, e para avaliar esse
impacto, a Unesco trabalha com o conceito de “comércio de água virtual“.
A ideia é que, como se usa muita água em atividades como a mineração,
pecuária ou agricultura, por exemplo, um país que exporte minérios ou
alimentos também está exportando sua água. Esse conceito é importante
para o Brasil, já que grande parte da nossa economia é formada pelas
exportações do agronegócio.
É possível resolver tantos problemas? A Unesco acredita que sim, e o
terceiro volume inteiro do relatório é destinado a estudar 15 casos de
gestão de água em diferentes países. Saber quais as experiências que
funcionam e quais não é fundamental para adaptar os países ao desafio
de tornar o acesso à água universal.
O “4º Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento da Água” está disponível para download no site da Unesco.
Foto: Gotas de chuva na Austrália em junho de 2009, após o país sofrer com uma de suas piores secas. Ian Waldie/Getty Images
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