Responsável pelo fim de 50 anos de poder do clã Sarney no Maranhão, o ex-juiz federal Flávio Dino (PCdoB) disse que vai assumir o governo às cegas, sem saber a situação financeira do estado. Dino afirmou que sua antecessora, Roseana Sarney, renunciou para não lhe passar a faixa, está “em destino incerto e não sabido” e não repassou para o presidente da Assembleia, Arnaldo Melo, as informações sobre caixa, contratos e tudo que diz respeito às finanças do estado.
- Vai ser um começo conturbado. De tédio ninguém vai sofrer no nosso governo. Estou assumindo às cegas. Roseana está em destino incerto e não sabido, evaporou. E tudo que pergunto para o substituto dela, ele diz que não sabe. Fizeram uma ceninha me enviando um carrinho cheio de papel, mas era só cópia do que estava na internet. Só lá pelo dia 20 de janeiro vamos saber a situação do caixa. Vamos auditar tudo. O que for pagamento ilegal, vamos atrás do dinheiro — avisou Dino.
A assessoria informou, no começo do mês, que Dino não solicitou audiência com a ex-governadora e que tem repassado as informações necessárias ao governador eleito.
FUNDO PARA PRECATÓRIOS - Dino vem brigando na Justiça para barrar o último ato de Roseana: a criação de um fundo com R$ 500 milhões de depósitos judiciais para pagamentos de precatórios.
O governador eleito relaciona a criação do fundo às suspeitas de que o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, teria subornado integrantes do governo do Maranhão, em troca do pagamento de precatórios à empreiteira Constran. Roseana foi uma das citadas na lista dos políticos que supostamente receberam propina do esquema de desvios da Petrobras.
- Tem essa confusão da ex-governadora com o Youssef sobre pagamento de propina para liberação de precatórios. A criação desse fundo a poucos dias do fim do governo fica ainda mais suspeita. É muito estranho, deixou todo mundo com a pulga atrás da orelha. Por que não deixar que o próximo governo resolva isso? — questionou Dino, informando que conseguiu uma liminar sustando a criação do fundo.
Com o fim dos mandatos de Roseana e de Sarney, como senador pelo Amapá, o chefe do clã tem se voltado para o Maranhão. Os dois únicos do grupo que continuam com mandato são os senadores João Alberto (PMDB) e Edison Lobão (PMDB). Mas, segundo Dino, corre a informação que o ministro das Minas e Energia vai tirar licença médica para deixar no mandato o filho Lobão Filho. Assim, os dois manteriam foro privilegiado.
Sobre a era pós-Sarney, Dino acha que o ex-presidente e seus aliados vão tentar se rearticular, mas que perderam as condições políticas para retornar como oligarquia. O futuro governador conta que toda semana Sarney usa a primeira página de seu jornal para escrever artigos muito politizados, com duros ataques e defesa de seu legado.
- É a livre leitura do livro do Gênesis: Deus criou o mundo e ele criou o Maranhão. Sarney está com o orgulho ferido. Faz uma projeção da atual situação com a que viveu com o arqui-inimigo Vitorino Freire. Quando ele o venceu, fez tudo para destruí-lo. Não vou fazer isso. Sou uma pessoa de paz. Não tenho esse desespero por vingança. Não quero ser coronel no lugar dele — disse o novo governador.
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