Poucas pessoas foram tão badaladas no Maranhão ao longo de 2015 quanto a ex-prefeita de Bom Jardim Lidiane Leite. Presença constante nas redes sociais, onde vivia postando fotos em baladas, shows, praias, shopping centers etc, ela teve suas postagem curtidas e comentadas pelos internautas sem muitos questionamentos até que explodiu uma bomba em sua prefeitura e ela passou a ser procurada pela Polícia Federal, acusada de um dos maiores desvios de dinheiro público no Maranhão. Virou a “prefeita ostentação” e seu nome correu o mundo, pois, de acordo com as denúncias, enquanto se divertia, crianças ficavam sem merenda escolar, pequenos agricultores eram enganados por terem nomes usados indevidamente como fornecedores da prefeitura e a cidade ficava abandonada.
Afastada da Prefeitura de Bom Jardim desde agosto do ano passado, hoje residindo em São Luís, a ex-prefeita pela primeira vez falou a um veículo de comunicação para dar sua versão dos fatos. Em entrevista à revista Maranhão Hoje (edição de número 34) que chegou às bancas neste fim de semana, ela diz que nunca administrou de fato o seu município, pois desde o primeiro dia um grupo, que ela não menciona quem, mas certamente liderado pelo ex-marido, Beto Rocha, que era seu secretário de Governo, tomou conta da prefeitura, enquanto ela não participava de nada, apenas se divertia. Indagada sobre as principais obras de sua administração, disse que simplesmente não saberia informar porque não participou de nada.
Lidiane é um claro exemplo das falas na legislação eleitoral brasileira. Apesar de filiada ao Partido Progressista (PP), não tinha nenhuma militância partidária, e sua candidatura foi definida, em 2012, menos de 48 horas antes do início da votação, não havendo tempo nem mesmo de colocar sua foto na urna eletrônica. Os eleitores de Bom Jardim, portanto, nem sabia que a estavam elegendo, pois não havia feito comício, não havia cartazes ou santinhos com sua imagem e a foto que aparecia para os eleitores era a de Beto Rocha, que deixou de concorrer porque estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Em pelo menos dois anos e meio, como prefeita, Lidiane conseguiu anular três vezes, na Justiça do Maranhão, seu afastamento da prefeitura. Em abril de 2014 foi afastada por 30 dias, por improbidade administrativa, e retornou em 72 horas; em dezembro do mesmo ano, o prazo aumentou para 180 dias, mas teve liminar suspensa pelo Tribunal de Justiça em 48 horas; e em maio de 2015 foi cassada e retornou ao cargo em 72 horas.
Entrevista - Para conceder a entrevista a Maranhão Hoje, Lidiane impôs uma condição: não queria aproximação física dos jornalistas, por isto as perguntas elaboradas e enviadas pelo whatsApp. Na maioria das respostas ela foi muito econômica com as palavras, mas as respostas são suficientes para se entender o esquema montado na Prefeitura de Bom Jardim, desde a posse.
Por não haver tomado nenhuma decisão, ter sido apenas “obrigada” a assinar documentos, Lidiane Leite se considera injustiçada por tudo o que aconteceu, ou seja, no seu entendimento não fez nada de errado. Pelo seu envolvimento neste esquema, diz que hoje vive assustada, tem medo dos políticos, principalmente de alguns com quem conviveu nesse período. E para entender como tudo ocorreu na sua vida, tomou a decisão de se tornar advogada, estendo, neste momento, se preparando para prestar vestibular. “Quero entender o porquê de tanta injustiça”, diz ela.
Sobre seu retorno à vida pública, Lidiane diz que prefere não pensar nisto no momento, e fez mistério se vai recorrer à Justiça para recuperar o mandato, já que a cassação se deu ao arrepio da lei. Indaga como era sua vida antes da política, diz que era de paz, feliz ao lado do ex-marido, nunca precisando trabalhar desde que o conheceu, e quanto ao pós prefeitura, diz que está melhor de quando era prefeita, pois vive em paz.
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