O vexame diante da Alemanha suscitou inúmeras perguntas que ainda estão à espera de respostas, e, na busca de explicação para o inexplicável, o terreno vai se tornando cada vez mais fértil para especulações. No turbilhão em que se encontra a seleção brasileira, a única certeza até agora é que o contrato de Luiz Felipe Scolari com a CBF termina domingo, com o fim da Copa do Mundo. O treinador deverá mesmo deixar o cargo. O nome de seu substituto ainda é um mistério, embora as apostas recaiam sobre o também gaúcho Tite, de 53 anos.
Entre as muitas críticas ao desempenho da seleção, o apego ao passado é a mais constante. Mesmo que já não produza mais tantos talentos e nem encante como antigamente, uma certeza quase ingênua de que a camisa verde-amarela ainda pode decidir um jogo prevalece. “Deitado eternamente em berço esplêndido”, o futebol brasileiro se mostra resistente a mudanças e, enquanto seleções mundo afora evoluem — e a Alemanha está aí para provar —, o Brasil se fecha. Na busca de soluções caseiras para seus suplícios, a opção de quase metade dos times nesta Copa não agrada aos dirigentes nacionais. A contratação de um técnico estrangeiro, decisão de 15 das 32 seleções no Mundial, é totalmente rechaçada por José Maria Marin, presidente da CBF.
— Eu repeli imediatamente (a ideia de contratar um técnico estrangeiro). Posso afirmar que não temos nada a aprender com ninguém de fora, principalmente no futebol. Sempre tivemos os melhores do mundo no Brasil. Já vencemos cinco vezes a Copa e mostramos o nosso valor — disse ele, em outubro do ano passado, após a conquista da Copa das Confederações com uma grande vitória sobre a Espanha na final.
Embora não tenha voltado ao tema, é pouco provável que mude de opinião. Em abril do ano que vem, Marin será substituído por seu vice, Marco Polo del Nero, na presidência da CBF. O cartola também já se manifestou contrário a uma seleção brasileira comandada por um estrangeiro.
Um passo neste sentido seria a radicalização de um processo que poderia, se não resolver todos os problemas, pelo menos trazer um frescor ao futebol nacional. Isso é o que aconteceu com seis seleções neste Mundial, que foram mais longe do que se supunha inicialmente. Estados Unidos (do alemão Jurgen Klinsmann), Argélia (do bósnio Vahid Halilhodzic), Chile (do argentino Jorge Sampaoli) e Grécia (do português Fernando Santos) chegaram até as oitavas de final. Já a Colômbia, do artilheiro James Rodríguez, comandada pelo argentino José Pékerman; e a Costa Rica, do técnico colombiano Jorge Luis Pinto, só foram eliminadas nas quartas. A Costa Rica, aliás, foi a grande surpresa da Copa, ao superar Itália, Uruguai e Inglaterra na fase inicial, terminando em primeiro no “Grupo da Morte”.
Apesar do bom desempenho destas seleções, as quatro finalistas são dirigidas por técnicos nacionais. Este pode ser um argumento na defesa da “prata da casa” para comandar a equipe que disputará o Mundial da Rússia, em 2018. Campeão brasileiro, da Libertadores e Mundial com o Corinthians, em 2012, Tite já vem sendo apontado como sucessor de Felipão desde o início da Copa.
Dispensado pelo clube paulista no fim do ano passado, Tite está desempregado desde então. Sondado por Flamengo, Palmeiras, Atlético-MG e Grêmio, entre outros, preferiu se dedicar ao futebol do lado de fora das quatro linhas, vendo o máximo de jogos possível, tanto no Brasil quanto no exterior, talvez já se preparando para este momento.
MURICY NA BRIGA
Como quem vai decidir a sucessão de Felipão será Del Nero, Tite, que nunca dirigiu a seleção, ainda terá contra si o fato de ter uma ligação estreita com o Corinthians, ainda sob forte influência do ex-presidente Andrés Sanchez, o maior desafeto do próximo presidente da CBF, que é palmeirense.
Favorito de Marin, Muricy Ramalho — que rejeitou o convite, em 2010, quando a entidade era presidida por Ricardo Teixeira — é outro nome cogitado, assim como Vanderlei Luxemburgo, que esteve à frente do time em 2001. Na bolsa de apostas, Alexandre Gallo corre por fora. Coordenador das equipes de base da CBF e observador de Felipão na Copa das Confederações e no Mundial, ele não é considerado experiente o suficiente para a dura missão de reinventar a seleção.
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