Se a história do Brasil ensina alguma coisa é que, acima de um certo nível de poder e de renda, ninguém é culpado pelo que fez ou deixou de fazer. Episódios como o impeachment de Collor e as condenações do mensalão seriam meros pontos fora da curva. A reiteração dos escândalos cuidou de restabelecer o respeito à tradição. Nesse contexto, a operação Lava Jato representa um teste.
A prisão dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, apenas elevou o grau de complexidade do teste. Até ontem, a dupla era interlocutora de presidentes da República e frequentadora de cerimônias de premiações de empresários do ano. Hoje, ambos serão apresentados aos colchonetes da carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Todo mundo sabe que as empreiteiras têm sido parte do poder de fato no Brasil. Ninguém ignora que a mistura de eleições e dinheiro produziu um meio-ambiente apodrecido.
O que há de diferente agora é que a força-tarefa da Lava Jato diz ter provas que permitem dissecar as relações do dinheiro com o poder como nunca antes na história desse país. São evidências documentais e testemunhais da tácita aliança da promiscuidade empresarial com o amoralismo político. Uma coligação que deu em coisas como a pilhagem da Petrobras.
No Brasil tradicional, os crimes cometidos acima de um certo patamar social são como cachorros que correm atrás dos carros. Eles perseguem quem os cometeu por algum tempo, dão a impressão de que vão estraçalhá-los, mas logo desistem.
A Lava Jato tornou um mais difícil a tarefa de deixar tudo pra lá, de fingir que nada está acontecendo. Mas, como sucedeu com outras investigações, essa operação é apenas mais um teste. Testa-se até onde vai a vontade do Brasil de se tornar um país sério. Ou menos esculhambado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário