A presidente Dilma Rousseff (PT) chega ao dia deste domingo em situação semelhante à que enfrentou há um ano e meio, quando os brasileiros foram às urnas para a última eleição: sem saber se continuará comandando o país até 2018. Neste domingo, porém, embora com cenário igualmente incerto como o daquela vez, há uma leve vantagem da oposição, que mostrou durante a semana ter votos para afastar a petista por crime de responsabilidade fiscal. Ao governo resta apenas sonhar com ausências e traições de última hora.
Se autorizar a instalação de um processo de impeachment contra a presidente, como fez há 24 anos com Fernando Collor, na primeira vez em que o dispositivo constitucional foi utilizado no país, a Câmara dos Deputados dará início a uma escalada que continuará no Senado e que dificilmente poderá ser contida pelo governo. Embora a Câmara não dê a decisão final sobre o tema, já que são os senadores que afastam e julgam um presidente, até mesmo os mais otimistas membros do Executivo sabem que uma derrota na primeira Casa do Congresso é quase impossível de ser revertida.
Mais que o impeachment de Dilma Rousseff, o Congresso Nacional discutirá os rumos do Brasil. Se concluído com o afastamento da comandante do país, encerrará um ciclo de poder iniciado pelo PT em 2003, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Palácio do Planalto com o discurso da esperança contra o medo.
De lá para cá, o partido que se notabilizou na oposição dura aos seus adversários desde a fundação, passou a ser vidraça, sobreviveu mesmo contestado ao mensalão, venceu mais três eleições (outra com Lula e duas com Dilma), mas hoje enfrenta rejeição recorde na população, cansada de um modo de governar que incluiu, segundo investigações criminais e decisões judiciais, práticas de corrupção que o PT tanto condenou antes de chegar ao poder.
Em sua defesa, Dilma e o partido realçam conquistas sociais que atribuem aos seus governos, retirando grandes contingentes da população da pobreza, e usam, agora, o mote de que está em curso um golpe para usurpar a vontade popular expressa nas urnas. Mesmo discurso que seus adversários faziam quando era o PT que queria tirar o mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1999, e que os petistas negavam. (Por Ricardo Correa)
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