Algum tempo atrás, Marina Silva rejeitou em entrevista a impressão de sumiço durante a crise que sacode o país. Embora, em março, tenha escrito que “silêncio se faz para ouvir''. Há semanas, reiterou o apoio às investigações sobre a roubalheira na Petrobras e se opôs ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. A ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata à Presidência fala, mas não com os decibéis que a encruzilhada exige e os mais de 40 milhões de votos somados em 2010 e 2014 autorizam.
Marina parece entocada, em contraste com o cenário que lhe permite uma terceira chance de chegar o Planalto. Na eleição retrasada, concorrendo pelo PV, padeceu com a fragilidade partidária. Com a Rede Sustentabilidade vetada, em decisão antidemocrática da Justiça Eleitoral, topou no ano passado ser vice de Eduardo Campos, do PSB. O destino lançou-a à segunda disputa presidencial. Ficou em terceiro lugar novamente.
Seu patrimônio político _e eleitoral_ só não é maior por dois motivos. O primeiro é a impressionante inabilidade para legalizar um partido, a Rede. Por mais que se alegue que se trata de agremiação diferente em ideias e métodos, a lentidão contrasta com o discurso de gestão eficiente alardeado nos palanques e nos programas televisivos.
O segundo foi a decisão de apoiar o tucano Aécio Neves no segundo turno. Depois de uma campanha em que reiterou a recusa aos políticos e siglas mainstream, Marina formou numa das trincheiras do mata-mata. Seu desafio agora é convencer que sua condição independente no Fla x Flu é real, depois de ter tremulado a bandeira do PSDB.
Marina foi demonizada por Dilma, que virou a campanha à esquerda para derrotar a antagonista do PSB. O PT produziu um anúncio vinculando a antiga senadora aos bancos e seus interesses. No segundo governo da petista, os bancos estabelecem lucros pornográficos e os juros conhecem aumentos obscenos, com um executivo do Bradesco no comando do Ministério da Fazenda.
Deixando para lá a procedência ou não das afirmações sobre Marina, a administração Dilma Reloaded age como a postulante à reeleição disse que a adversária agiria. É difícil imaginar que Dilma não funcione como uma espécie de vacina para Marina em eventual nova campanha. “Eles fazem aquilo de que me acusam'', retrucaria.
Outro trunfo da ex-pioneira do PT e ex-ministra de Lula, depois rompida com o PT e com Lula, são suas manifestações de sobriedade em meio à exaltação insana. Ao recusar o afastamento da presidente, Marina reconhece a soberania do voto popular. Diferencia-se de Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso, ambos à direita do “New York Times''.
Com a ebulição em curso, ninguém pode garantir que o calendário será respeitado e haverá eleição em 2018, com Dilma completando constitucionalmente o mandato conferido pelas urnas. Caso a democracia prevaleça, Marina Silva pode chegar com força. Talvez as maiores ameaças lhe sejam eventuais candidatos com o viço da novidade já perdido por ela: Sergio Moro, Eduardo Paes ou outro.
Para construir uma vitória daqui a três anos, Marina precisa mostrar que sua palavra é forte mesmo em meio à tempestade. Em silêncio, ninguém a ouvirá.
Por Mario Magalhães
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